Vigorexia: quando o exercício é demais
- Bruna Rosa
- 22 de out. de 2015
- 3 min de leitura

A vigorexia (também designada transtorno dismórfico muscular ou Síndrome de Adonis) caracteriza-se por uma perda do controlo sobre a frequência e intensidade da prática desportiva, a qual passa a ser influenciada por uma autoimagem distorcida, resultando numa dependência da prática de actividade física.
É um processo gradual, durante o qual o sujeito se desliga progressivamente da sua imagem ‘real’, praticando exercício de forma contínua e excessiva, sem atender a contra-indicações. Torna-se depois obsessivo em relação ao corpo (razão pela qual a vigorexia se pode enquadrar nas perturbações obsessivo-compulsivas), sentindo uma insatisfação permanente e procurando incessantemente a forma física ideal – o corpo é percecionado como insuficientemente ‘forte’, tonificado, atraente ou saudável, havendo um foco atencional sobre as ‘imperfeições’ (mesmo que mínimas) e uma sensação de vergonha, falha e humilhação constantes.
Superar obstáculos
Para procurarem superar estes obstáculos, estas pessoas restringem fortemente a sua alimentação (por exemplo, uma severa diminuição do consumo de gorduras e um aumento do consumo de alimentos ricos em proteínas) e chegam a consumir variadas substâncias que potenciam os efeitos do treino (por exemplo, proteínas, aminoácidos, anabolizantes, esteroides anabolizantes, complexos vitamínicos ou dietas rigorosas), as quais tendem a ter efeitos negativos no seu bem-estar global porque são ingeridas em doses excessivas.
A vigorexia atinge maioritariamente os homens
A prevalência desta perturbação tem sofrido um aumento gradual (estima-se que entre 1 a 10% dos sujeitos que habitualmente frequentam ginásios sejam vigoréxicos), explicada por uma maior sensibilidade das sociedades ocidentais para a importância da prática desportiva como forma de melhorar a saúde física e psicológica e, paralelamente, por uma maior valorização do papel do corpo e da aparência física. Fortemente potenciada pelo meio sociocultural, a vigorexia atinge uma prevalência substancialmente superior entre a população masculina (cerca de 80% dos casos), particularmente em adolescentes ou jovens adultos que apresentam baixa auto-estima, dificuldades ao nível da integração interpessoal e introversão.
Fatores de risco
Entre os fatores de risco para o desenvolvimento desta perturbação encontramos: questões neurobiológicas, traumas precoces, expectativas irrealistas e perfeccionismo, grande necessidade de agradar aos outros ou compensação de perdas ou frustrações nas várias áreas da vida.
Se pensarmos que o indivíduo passa a ‘viver para o ginásio’, é natural que, além das consequências orgânicas (por exemplo, insuficiência renal ou hepática; problemas ao nível da circulação sanguínea; problemas ósseos), várias necessidades emocionais comecem a não ser satisfeitas e que o desconforto psicológico emerja. Surgem comummente sintomas associados a depressão e ansiedade, como sendo: insónias, disfunções sexuais, isolamento social, cansaço e irritabilidade fáceis, dificuldades de concentração, perda de apetite, insucesso laboral, problemas de concentração e memória e/ou dificuldades no controlo de impulsos.
Como pode ajudar a psicoterapia?
Dado que a vigorexia tem fundamentalmente causas de origem sociocultural e afetiva, o tratamento deve ser multidisciplinar, devendo a componente psicoterapêutica promover a mudança comportamental e da autoimagem corporal distorcida, favorecendo uma relação saudável da pessoa com o seu corpo (com diminuição da preocupação patológica) e a recuperação da sua autoestima. Em síntese, introduzimos novos hábitos, exploramos e resolvemos as origens emocionais da perturbação, restabelecemos a rede social e autoimagem do sujeito e a sua sensação de controlo sobre a sua vida.
No trabalho com estas pessoas, são habitualmente utilizadas técnicas e abordagens específicas como o EMDR (Eye Movement Desensitization and Reprocessing ou Dessensibilização e Reprocessamento por Movimentos Oculares), o mindfulness, uma componente psicoeducativa, a psicoterapia cognitivo-comportamental, a psicoterapia comportamental dialética e a terapia familiar e conjugal.
Por Bruna Rosa (Psicóloga Clínica)
e Luís Gonçalves (Psicólogo Clínico e Psicoterapeuta)
www.psinove.com
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