Quando os filhos saem de casa dos pais
- Telma Pinto Loureiro
- 20 de nov. de 2015
- 5 min de leitura

O ciclo vital de cada ser humano é composto por várias etapas e por vários papéis. Ser pai e mãe, cuidador e cuidadora, é um dos papéis mais importantes e com maior impacto na vida de qualquer pessoa, por isso, qualquer rutura ou modificação traz, quase sempre, sofrimento psicológico e angústia aos intervenientes. A forma como os papéis parentais são vividos não é igual em todas as sociedades, mas tende a seguir normas e padrões que vão ao encontro do que essa sociedade define como modelo.
Tradicionalmente, o povo português traz na sua génese um forte instinto protector e cuidador em relação às suas crias e as relações estabelecidas refletem essa forma de pensar e, consequentemente, agir. Se falarmos com um pai e uma mãe portugueses, raramente eles nos dizem que estão preparados para verem os filhos saírem de casa e iniciarem um novo ciclo. O pensamento é o de tentar atrasar o mais possível a saída e a independência dos filhos.
Síndrome do ninho vazio
A síndrome do ninho vazio caracteriza-se essencialmente pelo surgimento de sintomas depressivos, nomeadamente, tristeza, sentimentos de vazio, angústia, inutilidade, falta de sentido para a vida, problemas psicossomáticos, entre outros. Habitualmente, este estado é pontual e a sua duração estende-se desde o instante de separação física dos filhos até o estabelecimento de uma nova ordem familiar. Todavia, há muitos casos em que os sintomas permanecem e podem transformar-se em depressão.
A personalidade de cada indivíduo e os padrões educativos dos pais são determinantes para a forma como a separação é encarada, sendo os indivíduos mais dramáticos os mais instáveis e mais dependentes psicologicamente.
O tipo de vinculação que os pais estabelecem com os seus filhos é outro aspecto central para a forma de vivenciar a saída dos filhos de casa. Uma vinculação tipo difuso caracteriza-se por uma relação pautada por falta de individualidade entre os intervenientes, falta de limites entre o espaço de um e o espaço de outro, comunicação fortemente emocional, grande dependência emocional e física, sendo este tipo de vinculação o veículo perfeito para dar origem a situações patológicas. Nos períodos seguintes à separação é frequente a saudade ser o conceito mais utilizado para justificar os telefonemas e as tentativas de contrariar o afastamento, podendo, em algumas situações, dar origem a crises de ansiedade, angústia, problemas psicossomáticos que antes não existiam. Estas situações são quase sempre muito difíceis de tratar, porque há uma grande dificuldade em descodificar estes sintomas, já que, a maior parte das vezes, as pessoas procuram ajuda médica, no entanto, é a componente emocional e psicológica que está a precisar de ser trabalhada e ajudada, sendo por isso, fundamental a pessoa procurar ajuda psicológica especializada.
Impacto para o casal
Quando os filhos saem de casa, não é apenas a relação parental que é abalada, a relação conjugal também se modifica. Agora, esta passa a ser o centro das atenções, e muitas vezes, é só nesta altura que os cônjuges se deparam com o abismo que se encontra entre eles. Até então, as atenções estavam todas focadas na educação e no crescimento dos filhos, nas tarefas já quase automáticas que cada um fazia e no acordo verbal e, algumas vezes, implícito que os cônjuges estabeleceram entre eles para o funcionamento do sistema. Quando um elemento do casal se depara apenas com o outro elemento dentro de casa, sem o modelo de funcionamento a que estavam habituados, sem o foco das atenções presente (os filhos), há, neste momento, um sentimento de vazio, desorientação, e o casal apercebe-se de que não investiu na sua relação amorosa e agora mal se conhece. Partilharam a educação dos filhos, partilharam as finanças e pouco mais.
Nesta fase da vida, o casal vê-se obrigado a fazer um balanço da sua relação e, a maior parte das vezes, verifica-se duas situações:
O divórcio ou a (re)construção da relação conjugal. A primeira hipótese surge quando os elementos do casal percebem que já não existem como casal, não há o afeto que os uniu no namoro e, posteriormente, no casamento, logo não há motivo para continuarem juntos. Olham um para o outro e não encontram motivo para permanecerem ligados àquela pessoa. Não é raro, no entanto, já haver esta consciência de afastamento por um dos elementos do casal (ou pelos dois) enquanto os filhos ainda estão em casa, mas mantêm o sistema em funcionamento para não desestabilizar o ambiente familiar. Está ainda muito associado ao divórcio e a esta mudança no ciclo vital, uma mudança interior que os elementos do casal veem necessidade de fazer. Além das alterações a nível conjugal, sentem necessidade de fazer outras modificações, como se quisessem finalmente colocar-se no centro das suas vidas e fazerem aquilo que os torna felizes.
A segunda hipótese, a (re)construção da relação conjugal tende a ser mais fácil do que a primeira, porque as mudanças não são tão profundas e os elementos do casal estando os dois na mesma situação, são o suporte um do outro. Esta situação verifica-se quando os sujeitos percebem que ainda há sentimento entre eles, e que apesar de se terem esquecido um pouco da sua relação, querem resgatá-la. Há nesta fase, um reconquistar do outro elemento, que é muito prazeroso para o casal e quase sempre a relação ganha um novo funcionamento, muito mais satisfatório e o casal fica mais próximo do que era inicialmente, porque agora estão mais maduros e partilham um património juntos – a vida e os filhos. Quando o casal, apesar de saber que quer resgatar a sua união, não consegue ou está a ser mais difícil do que imaginava, é benéfico procurar ajuda profissional. Fazer terapia de casal torna-se uma ajuda imprescindível para alcançarem os objetivos.
Apoio psicológico/tratamento
Quando os casais sentem que não conseguem ir ao encontro um do outro e não estão a ter a capacidade de gerir os conflitos, procurar apoio psicológico especializado é, na maior parte dos casos, a melhor decisão.
Algumas situações concretas em que deve/pode recorrer à terapia de casal:
[endif]Dificuldades de comunicação entre os elementos do casal;
[endif]Dificuldade em reorganizar o sistema familiar depois da saída dos filhos de casa;
Situações de separação ou divórcio;
Situações de infidelidade;
Dificuldades na sexualidade do casal;
Dificuldades no desempenho da parentalidade;
Perturbação do equilíbrio familiar por doença de um elemento;
Situações de rutura familiar (por exemplo, luto).
Não obstante a terapia de casal, a terapia individual pode ser também complementar a este processo e ajudará, com certeza, a pessoa a alcançar maiores níveis de bem-estar, conhecimento de si e a ter ferramentas para lidar com as várias exigências que a vida lhe vai propondo.
Por Telma Pinto Loureiro
Psicóloga
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