Motivação e entusiasmo na aprendizagem
- Renato Paiva
- 5 de out. de 2015
- 4 min de leitura

Dedicar tempo ao que gostamos é sempre uma satisfação. Deixar que o entusiasmo nos invada e nos faça avançar faz com que sintamos tudo muito mais fácil. E de facto é. Como afirmou Sandra Anice Barnes, «é tão difícil quando tenho de fazer e tão fácil quando quero fazer».
A vontade muda muita coisa. Muda, sobretudo, o olhar com que vislumbramos as dificuldades que se irão cruzar no nosso caminho. E, certamente, seja qual for o caminho, as iremos encontrar. Nada é fácil. Por muito que dominemos uma qualquer informação, contexto ou situação, haverá sempre algo a dificultar a tarefa.
Prisma escolar
Quando olhamos pelo prisma escolar, percebemos que a motivação e o entusiasmo são, de facto, condicionadores para uma aprendizagem mais eficiente, mais simples e mais aprazível. Quando temos professores entusiasmados e motivados, vemos que estes superam mais facilmente adversidades, como turmas de 30 alunos, salas de aulas em contentores, poucos recursos materiais para lecionar, trabalhar longe de casa e da família, com a incerteza da estabilidade profissional, com o congelamento de carreiras… podíamos ficar a enumerar as adversidades dos professores que, de facto, são muitas. Elas existem, são uma realidade. Mas, é também uma realidade encontrar professores que entram na escola com ‘sorrisos de orelha a orelha’, que cumprimentam as pessoas com um alegre ‘bom dia’, que contagiam os outros com a sua boa disposição. Então, mas e estes não têm adversidades? Claro que sim! O que muda então?
Muda a predisposição que temos para minimizar as adversidades e nos focarmos no positivo. Há sempre coisas positivas, mesmo nas adversidades. Muda igualmente o modo resiliente como encaramos as dificuldades e a forma como sentimos confiança em nós para as superar. Muda o facto de termos objetivos concretos que pretendemos cumprir e pelos quais lutamos e o modo como encaramos as coisas menos boas que vão acontecendo. Muda a vontade, muda o querer. Quando se quer, arranjam-se maneiras, quando não se quer, arranjam-se desculpas.
Fomentar o gosto pelo conhecimento e curiosidade
É uma vontade que vem de dentro, muitas vezes inexplicável, mas que nos move, que nos dá força para fazer, para concretizar, para avançar. Uns têm essa vontade para correr, para fazer voluntariado e ajudar os outros, para… para ensinar. Esses professores que transmitem esse entusiasmo, essa motivação são os que melhor expressam a paixão que sentem em ser professores. E por isso mesmo, mais eficientemente influenciam o modo como os alunos encaram a sala de aula, a aula e a aprendizagem. É contagiante! Quando temos professores apaixonados pelo que fazem e isso sente-se, também temos a reciprocidade de ter essas manifestações nos alunos.
Se pretendemos alunos entusiasmados e motivados para a aprendizagem, que o são naturalmente à entrada da escolaridade, temos de saber manter esse entusiasmo. Temos de cativar pela novidade, pelo alimentar da sua sede de querer descobrir, de querer conhecer, de lhes fomentar o gosto pelo conhecimento e curiosidade. A questão é que a curiosidade atrapalha os professores. Atrapalha as aulas. Os miúdos são muito questionadores, interrompem, intrometem-se, perguntam coisas fora do contexto, querem saber mais do que o professor preparou para aquela aula, desarmando-os. É muito mais fácil que todos fiquem caladinhos a ouvir uma única explicação que os convença a todos. Mas, sobretudo, que os satisfaça a todos. Mas, isso não acontece. E, a pouco e pouco, vamos desmotivando e amputando a curiosidade inata dos miúdos, a sua vontade em querer saber mais, em querer conhecer mais. Porque não há tempo, porque isso agora não é para aqui chamado, porque temos de dar matéria, porque... porque…
Não só os professores vão anulando a curiosidade dos miúdos. Os pais também. Pelos mesmos motivos. Fazem muitas perguntas, são incómodos, não deixam ver televisão ou conversar em paz, parece que as justificações nunca chegam e perguntam o porquê das coisas mil vezes. São uns ‘chatos’! Certo que sim, mas são curiosos e estão a aprender a dar sentido ao mundo. E quando lhes vamos cortando aqui, ali, acolá, ontem, agora e no futuro o seu interesse, o seu entusiasmo, a sua motivação não é devidamente alimentada e acaba por desmoronar.
A linguagem com que se fala da escola
Igualmente preocupante é a linguagem com que se fala da escola. Se fizermos perguntas sobre coisas boas, com maior possibilidade iremos receber respostas relativas a coisas boas! Mas, se no nosso discurso procuramos problemas, encontrá-los-emos de certeza! Por exemplo, porque é que tantas vezes nos dirigimos aos miúdos, depois de mais um dia de escola, com perguntas do género: «Então, essa Matemática, continua a ser um problema?» ou «Recebeste mais algum teste negativo?». Outra abordagem possível passaria por colocar questões como: «Então, tiveste desafios que te entusiasmaram na escola?» ou «Que coisas novas aprendeste hoje?».
Reforçar crenças negativas como a de que a Matemática é uma disciplina difícil, ou o 8º ano é o mais difícil de todos, e é uma ‘seca’ aprender História e que Filosofia não serve para nada, reforça a passividade dos alunos e não é encorajador para que olhem para a escola como algo desafiante, motivador e entusiasta. É importante falar bem da escola, da sua importância, das suas vantagens. Não escondendo os problemas, as dificuldades que surgem, mas encarando-as como desafios. E os desafios são muito mais motivadores que os problemas!
Por Renato Paiva
Director da Clínica de Educação
www.clinicadaeducacao.com
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